O Fado, mais do que destino.
O fado é, por excelência, a canção não só de Lisboa, mas de Portugal inteiro. Produto de um sentimento próprio, de uma alma que não se explica, mas se sente, o fado é ainda hoje o produto mais nobre e genuíno da cultura popular portuguesa. Dizem que é fruto da saudade, da alma lusitana, dessa sensibilidade que nos caracteriza. É por ser tão próprio e tão diferente de qualquer outro estilo musical que surpreende tudo e todos, principalmente os turistas, que, na maioria das vezes, mesmo sem perceber a língua, se deixam levar pela harmonia única deste estilo só nosso. O fado é o fado. Seja amador e vadio, ou profissional e internacional.
Nas casas de fado, que agora voltam a respirar em Alfama e noutros bairros populares, como o Bairro Alto, o fadista nunca é convidado - convida-se a si próprio. Não há programa estabelecido, não há horas para 'fechar a loja'. Come-se um bom chouriço assado, bebem-se uns copos, apaga-se a luz e solta-se a magia do fado. Quem quer, canta, e, normalmente, encanta.
Para todos os portugueses e não só, Amália Rodrigues ainda é a grande senhora do fado, a grande referência, e assim será para a posteridade. No entanto, outros nomes, como Maria da Fé, Carlos do Carmo, Cidália Moreira e Argentina Santos são igualmente referências incontornáveis.
De todo o modo, o Fado está a mudar. Uma nova geração de excelentes intérpretes surgiu na década de 90, renovando o Fado, recorrendo a outros instrumentos e tornando-o mais ligeiro e harmónico. É o caso de Camané, uma das certezas da nova geração: ao fado tradicional, profundo e de alma, o cantor introduziu a modernidade, com o som do contrabaixo. Uma das vozes mais adultas, mas também mais eruditas do novo Fado é Mísia, que nos últimos dois anos vendeu 20 mil discos em 64 países, esgotando o mítico Olympia, em Paris. Mísia bebeu nas raízes do fado - a saudade - e juntou-lhe as palavras de grandes escritores da língua portuguesa, como José Saramago, Lobo Antunes, Agustina Bessa-Luís e Lídia Jorge, entre outros. Entre a galeria dos novos intérpretes, encontramos ainda, na primeira fila, Mariza, Mafalda Arnauth, Maria Ana Bobone, Hélder Moutinho e Ana Sofia Varela. Assim se prova que o fado nunca morre, pois antes de ser destino, já era alma.